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Sejam Bem-vindos!!! Este é um espaço dedicado a arte e aos seus (futuros) admiradores. Ele é uma tentativa de despertar em seus visitantes o gosto pelo assunto. Aqui, poderão ser encontradas indicações de sites, livros e filmes de Artes Visuais, imagens de artistas, alem do meu processo de trabalho. É o meu cantinho da expressão. Espero que sua estadia seja bastante agradável e proveitosa.
Este Blog é feito para voces e por voces pois muitas das postagens aqui presentes foram reproduzidas da internet. Alguma das vezes posso fazer comentarios que de maneira parecem ofensivos porem nao é minha intençao, sendo assim, me desculpem. Se sua postagem foi parar aqui é porque ela interessa a mim e ao blog e tento focar os pontos mais interessantes. A participaçao dos autores e dos leitores é muito importante para mim nestes casos para nao desmerecer o texto nem acabar distorcendo o assunto

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A ARTE COMO PARTE DA CULTURA (parte 2)

  • A ARTE E SUA FUNÇÃO NA HUMANIDADE
    Há sinais de manifestação artísticas na construção das favelas que devemos valorizar como elementos da construção da consciência estética como por exemplo, o aprendizado de fazer e alinhar os barracos nos acampamentos, ou a organização das filas nas marchas. São aspectos que representam o gosto pela beleza e a criatividade de demonstrar para a sociedade os aspectos bonitos da organização.
    Os materiais didáticos que recorrem à ciência e à técnica para serem elaborados, demonstram o aspecto consciente da arte que a militância desenvolve.
    Mas é na mística que se revela a sensibilidade artística de milhares de pessoas, fundamentalmente quando se usa o teatro como forma de expressá-la. “O teatro reinventa o homem, apresenta-o e faz da existência uma contínua criação”.
      Há um prazer incontido em representar a história que trás em si a “gabolice” do caipira, que sem deixar de mostrar suas deficiências, nunca perde, porque quando o conto está ameaçado, recorre aos sonhos para antecipar a realidade que deseja construir.
     Retrata-se a dor, a morte e o sofrimento, mas a dinâmica da peça da vida, apresenta a solução final vitoriosa quando, simbolicamente, expulsa o imperialismo, derruba as cercas, põe comida farta sobre a mesa para que todos participem do banquete, e, usando todas as cores, desenha o raiar do sol do socialismo.
    Esta mística que forja o arquétipo (modelo) de um novo sujeito histórico, arquiteto dos próprios sonhos, precisa conduzir para uma permanente encenação real, de figurantes que se transformam em artistas, na cooperação do trabalho, na participação das decisões políticas, no embelezamento do espaço geográfico, nas relações afetivas, na diversão e na festa.
    Além do mais, essa capacidade de criar e encenar, deve sair dos encontros e se reproduzir no local onde as pessoas que vão aos encontros vivem. Porque é possível fazer uma encenação por dia em um encontro e, as mesmas pessoas não conseguem fazer uma encenação por mês em seu assentamento?
     É porque, para criar precisa-se de liberdade. Precisamos libertar o que está preso dentro das pessoas que evitam expor-se diante dos seus iguais, por isso é mais fácil soltar-se diante dos “desconhecidos”. Mas por outro lado é preciso ajudar a criar. A encenação para nós não é um faz-de-conta, são sonhos virando realidade. Só o exercício treina.
    Nossa arte vai além das belas artes ( música, poesia, teatro, dança, arquitetura, pintura e escultura) liga-se à vida e a utopia socialista. Precisamos levar a matéria de Educação Artística para fora das escolas. Por que somos antigos espectadores que se transformaram em “artistas” da própria história.
    É preciso abrir-se para a sensibilidade, eliminar os preconceitos e os complexos reprimidos para não somente libertar a arte, como também a cultura e o ser humano.
     Para que isso aconteça precisamos evoluir no pensamento filosófico do que representa esta transformação, do jeito de produzir nossa existência

  • REPRESENTAR-SE A SI PRÓPRIOS
    Há uma tese de José de S. Martins, analisando a música sertaneja, onde diz que, o caipira sempre foi representado: “... não é o verdadeiro caipira quem compõe e canta. Cada compositor e cantor procura adequar-se á imagem do caipira, fazendo de conta que é caipira”.
    Não! O lote e a desorganização não podem ser mais fortes que o anseio e a mística para destruir em poucos dias este artista da política, que prefere encolher-se e delegar aos outros o direito de representá-lo. Por que volta a ser espectador se a pouco era o próprio artista?
Os poucos que representam, passam a substituir os milhares de sujeitos em algumas áreas necessárias para o consumo interno como, a música e a pintura. Voltamos então a entender a arte com o estreito conceito de ser somente música e pintura.
    Isso pode ser ainda pior do que “representar o caipira”. Abandona-se o seu potencial de criatividade e acompanha-se a indústria de consumo, preenchendo este oco deixado pela música raiz, moda de viola, catira, reisado, forró etc., com o Regae o Funk ou o “sertanejo pop” como se fossem ritmos mais revolucionários. As verdadeiras raízes musicais nascidas no campo, quase sempre são alimentadas, por cantores informais nas “periferias” dos encontros e reuniões, que sem incentivo para subirem ao “palco”, protestam a seu modo, com suas gargantas empoeiradas e dedos lanhados que arrancam das cordas o que aprenderam de ouvido.
   É por isso que a música,(mesmo sendo o aspecto de maior desenvolvimento) , está deixando de ser arte, no sentido que disse Rosa ao entrevistar João Pacífico, caracterizando a mudança de instrumentos, ritmos e conteúdos “... a música deixou de ser arte, expressão da alma do povo para se transformar numa industria gigante... A esta altura o capiau já perdera a ingenuidade e a roça, o encanto”
    É nesse contexto que ao mesmo tempo que parecem perderem a ingenuidade, os Sem Terra, perdem também as raízes culturais. Pela falta de disposição para resgatá-las e, por não ter nome e fama, valoriza-se pouco àqueles que com seus velhos instrumentos, poderiam representar-se a partir do lugar onde vivem, e não ser representados por àqueles que os representam com os olhos, os hábitos e os vícios da cidade.  
    A valorização daquele “que ainda espera por acontecer” passa pela valorização e mudança de método com aqueles já “acontecidos”. É desgastante e pouco furtífero, levar cantores nossos a deslocarem-se por longas distâncias, para cantarem músicas já “batidas” e algumas com mensagens ultrapassadas, que a própria massa já canta sem acompanhamento. A estes cabem programações mais intensas onde se busque descobrir novos aspectos do trabalho de base, como já dissemos em outras ocasiões, da valorização da noite, da fogueira e daqueles que já não tem condições e nem vontade de participar de eventos. Assim nossos cantores obrigam-se a ir além da animação, mas buscar elementos para tornarem-se “maestros” que regem o aprendizado e deixam sementes geminando no campo da arte quando vão embora.
   Esta iniciativa passa também pela valorização dos cantores, poetas, escultores, animadores etc. locais, para que dinamizem através da arte o desenvolvimento da consciência estética.
     Por isso é de fundamental importância o que o Mineirinho vem fazendo em São Paulo, onde procura, não só resgatar a viola, mas os sons e o conteúdos produzidos por ela na cultura regional.
    No alto clero da música brasileira, fala-se em “Turner” com espetáculos montados. Não é o nosso caso, mas é fundamental implementar o método de montar espetáculos sobre a própria realidade com grupos de animadores da cultura no próprio estado. Não existe somente o militante da política, existe também o militante da arte que se transforma em política da: música, poesia, teatro, pintura, escultura. Fala-se em festivais e “Mostras” nacionais, são boas iniciativas, mas há um espaço enorme para o indivíduo “se mostrar” ali próximo de onde vive. Muitas dúvidas de encaminhamentos acontecem porque as idéias avançaram muito além da prática e da realidade concreta. É preciso fazer as pernas apressar-se para acompanhar a cabeça.
   (...) A música teve, por necessidade de recreação, incentivo e tolerância maior. Mas este espaço conquistado pela música não faz juz à sua qualidade no momento presente. Podemos dizer que, a música cavou seu espaço e alguns se acomodaram
    Circula em torno de sua própria ordem e não sobre a ordem da necessidade que a organização tem, de destapar os desafios e elevar a motivação para buscar sua superação.
     Arte não é imitar nem copiar, é criar, como disse José Martí: “Reproduzir não é criar, e criar é o dever do homem”
   Então o espaço conquistado deve ser ampliado e qualificado. Não somente criar letras (que no momento estão aquém das necessidades) mas ritmos que resgatem as raízes e valores morais. Enfim, imprimir arte nesta área.
   Avançaremos quando as peças de teatro forem escritas e menos improvisadas nas místicas dos encontros. Quando as crianças em concursos semanais de pintura, modificarem a aparência da escola. Quando as letras das músicas contribuírem para a mudança de comportamento. Quando os adultos valorizarem a beleza como parte constitutiva da vida.    
    Enfim, quando cada um assumir a responsabilidade de que é arquiteto da própria existência e cada área conquistada tornar-se uma escola de valorização e formação de artistas revolucionários.
    Todas as produções artísticas se mantém atuais quando a vida não consegue passar adiante das mensagens, das palavras, dos traços e dos valores de um povo.
   Em cada consciência há um fogo que arde é preciso libertá-lo antes que se apague.

Ademar Bogo
Julho de 2001

Souza Barros. Arte Folclore, subdesenvolvimento. Civilização Brasileira. 1977.
Chaui, Marilena. Convite à Filosofia. Ática. SP 2000
Idem.
B. I. Siussiukálov. Fundamentos metodológicos e métodos de estudo da filosofia. Edições Progresso
Joana Lopes. Pega Teatro. CTEP. São Paulo 1981.
J. S. Martins. Capitalismo e Tradicionalismo. Biblioteca Pioneira de C. Sociais. SP 1975.
Rosa Nepomuceno. Música Caipira da Roça ao Rodeio. Editroa 34, SP 1999
“José Martí. Versos Singelos
fonte http://ialatextos.blogspot.com.br/2007/03/arte-como-parte-da-cultura.html

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