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Este Blog é feito para voces e por voces pois muitas das postagens aqui presentes foram reproduzidas da internet. Alguma das vezes posso fazer comentarios que de maneira parecem ofensivos porem nao é minha intençao, sendo assim, me desculpem. Se sua postagem foi parar aqui é porque ela interessa a mim e ao blog e tento focar os pontos mais interessantes. A participaçao dos autores e dos leitores é muito importante para mim nestes casos para nao desmerecer o texto nem acabar distorcendo o assunto

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ARTE NA IDADE INDUSTRIAL



   Já nos referimos nesta coluna à questão da pintura como produto artesanal na sociedade moderna que começa com a industrialização, em meados do século 19. Este é um dado decisivo para se entender algumas questões da arte daquela época e dos movimentos de vanguarda que surgem no início do século e influem sobre toda a arte contemporânea.
 
    A indústria caracteriza-se pela produção em série dos objetos. No início, esta capacidade foi utilizada, não apenas para reproduzir objetos novos – na verdade, utilitários –, mas também para copiar as formas artísticas consagradas e representativas do gosto tradicional. Por exemplo, os capitéis gregos, com que o estilo revival enfeitava os edifícios erguidos então, deixaram de ser feitos por artesãos para serem reproduzidos industrialmente. Herbert Read observou também, em seu livro Art and Industry, como o gosto artístico consagrado induziu os fabricantes de máquinas a adotarem, por exemplo, colunatas clássicas na construção de uma máquina de fiar. A invenção das formas novas, correspondentes à nova técnica de produção, viria mais tarde e se caracterizaria pela eliminação dos elementos decorativos que, por assim dizer, ocultavam a natureza funcional da forma. Sulivan formulou a nova atitude em face do design numa frase que se tornou um dogma: “a forma segue a função”. Se é verdade que esse princípio foi adotado particularmente na arquitetura e nos objetos de uso, nem por isso deixou de influir sobre a pintura e a escultura, provocando uma verdadeira revolução no modo de conceber estas artes de expressão individual. A primeira e mais radical manifestação deste fenômeno foi a do movimento De Stijl, criado por Piet Mondrian e Van Doesburg, na Holanda, por volta de 1917. Se é verdade que esse movimento derivou do Cubismo, tomou dele apenas um dos aspectos – o construtivo – e lhe deu um curso de que nem Picasso nem Braque jamais suspeitariam. Este movimento se caracterizou pela drástica ruptura com a linguagem figurativa da pintura, a exclusão de todo e qualquer fator subjetivo e a pretensa integração da expressão pictórica na arquitetura. Outro movimento, que também expressou esta adesão aos modos de conceber e construir a obra próprios da produção industrial, foi a arte dos russos Antoine Pevsner e Naum Gabo. Mas estas são tendências, por assim dizer, afirmativas das novas técnicas, enquanto houve outras que podem ser entendidas como resultados críticos da idade industrial sobre as artes.
 
    É curioso que o mesmo Cubismo, donde derivou o Neoplasticismo holandês, continha também os primeiros sinais de outro lado da questão: a crise do artesanato artístico. Esta crise se manifesta, de modo larvar, nos primeiros papiers collés que Braque e Picasso introduzem em suas telas, substituindo o trabalho artesanal do pintor pelo produto industrial, já pronto, como no caso da madeira do violino representada por papel de parede imitando madeira; é o mesmo caso do pedaço de jornal colado no lugar onde o pintor teria que imitar uma folha de jornal. Ao fazê-lo, os dois cubistas estavam de fato afirmando que o trabalho artesanal não é fator imprescindível na feitura do quadro. Ou seja, se posso usar papel de parede para representar a madeira num objeto do quadro, poderia igualmente compô-lo todo com elementos feitos industrialmente. Na verdade, nem Picasso nem Braque levam esta experiência às últimas conseqüências; em vez disso, usam o precedente para construir o quadro com diferentes elementos, que vão desde areia e prego, até barbante e placa de metal. De uma forma ou de outra, o certo é que a noção de quadro enquanto coisa pintada, produto do trabalho artesanal que utiliza tinta e pincel, estava superada, embora o quadro continuasse a ser um produto artesanal. Pode-se dizer que já não era pintura.
 
    Não obstante, não apenas Braque e Picasso retornam à pintura, como também o fazem outros artistas que promoveriam os movimentos de vanguarda posteriores, ao longo do século 20. No entanto, aquela ruptura vislumbrada no Cubismo, encontrará um seguidor radical, cujas propostas marcarão profundamente a arte contemporânea, precisamente por encarnar a crise implícita na contradição arte artesanal e idade industrial. Este seguidor é Marcel Duchamp. Não se pode dizer que ele, desde o começo, tinha claro o caminho que queria seguir. Pelo contrário, ele pintou influenciado pelos cubistas e pelos futuristas. A consciência de que a máquina tornara o artesanato artístico obsoleto, levou-o a tentar um caminho novo, desvinculado da linguagem tradicional da arte que, em vez de partir da intuição artística, partiria de cálculos matemáticos. Daí nasce o Grande Vidro, que resultou numa experiência frustrada. Talvez por isso mesmo volta-se para uma idéia mais radical, que são os read-mades: a substituição do quadro ou da escultura por um produto industrial como o urinol de botequim que ele intitula Fontaine, assina com o pseudônimo Mutt e envia para a exposição dos Salão dos Independentes, em1917. Era o primeiro de uma série de outros objetos já prontos – como a roda de bicicleta que ele monta numa banqueta ou uma pá de lixo – com que ele ironicamente afirma a desvinculação entre a arte e o artesanato, entre a criação artística e o trabalho manual, mas, também, entre o estético e a vulgaridade. Não obstante, quando vemos a sua última obra – Étant donné –, envolta em intenso erotismo e em grande parte produto do trabalho artesanal, tendemos a acreditar que a obra de Duchamp é muito mais a expressão de uma nostalgia da imaginação poética presente nas obras do passado do que uma adesão aos valores da linguagem industrial, já que o seu pensamento se caracteriza muito mais pela boutade dadaísta e pelo onirismo surrealista do que pela racionalidade funcional da estética industrial.
 
    As tendências neoplásticas e construtivistas não tiveram desdobramento no futuro, muito embora, a arte concreta da escola de Ulm – que teve seguidores na Argentina e no Brasil nos anos 50 – denote alguma ligação com aqueles movimentos. O lado menos racional do Cubismo, bem como a valorização da subjetividade que se dá com o Expressionismo, gerará no futuro um movimento que surgiu da desagregação da linguagem pictórica, mudada já agora de trabalho artesanal em ação automática, gestual, cega – o Tachismo. Tanto este movimento quanto a arte conceitual nascida das propostas de Duchamp são expressões derradeiras da crise que a era industrial provocou nas artes de natureza artesanal.
 
    Mas, se a pintura, por exemplo, não goza hoje da importância que a distinguiu no passado, é verdade que ela se tornou, para o artista de hoje, um campo de expressão único, que lhe permite inventar novos signos, novos significados, só possíveis nele, e que são por isso mesmo um modo próprio de reinventar a realidade.

Fonte original: Revista Continente Multicultural: www.continentemulticultural.com.br 
Fonte onde peguei: http://www.portalartes.com.br/artigos/679-arte-na-idade-industrial.html 
Proximas postagens:
  • Impasse da Antiarte
 

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