Aos Leitores do blog

Sejam Bem-vindos!!! Este é um espaço dedicado a arte e aos seus (futuros) admiradores. Ele é uma tentativa de despertar em seus visitantes o gosto pelo assunto. Aqui, poderão ser encontradas indicações de sites, livros e filmes de Artes Visuais, imagens de artistas, alem do meu processo de trabalho. É o meu cantinho da expressão. Espero que sua estadia seja bastante agradável e proveitosa.
Este Blog é feito para voces e por voces pois muitas das postagens aqui presentes foram reproduzidas da internet. Alguma das vezes posso fazer comentarios que de maneira parecem ofensivos porem nao é minha intençao, sendo assim, me desculpem. Se sua postagem foi parar aqui é porque ela interessa a mim e ao blog e tento focar os pontos mais interessantes. A participaçao dos autores e dos leitores é muito importante para mim nestes casos para nao desmerecer o texto nem acabar distorcendo o assunto

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O LUGAR DO MUSEU NA EDUCAÇÃO

Leonel Kaz responde à espantosa pergunta do ministro Aloizio Mercadante sobre o que é que museu tem a ver com educação

Museu é o lugar em que "a criança se educa, vivendo" como nos ensinou, desde 1929, o educador Anísio Teixeira, ao falar da escola (Ilustração: Cavalcante)
Museu é o lugar em que “a criança se educa, vivendo” como nos ensinou, desde 1929, o educador Anísio Teixeira, ao falar da escola (Ilustração: Cavalcante)
Texto publicado originalmente a 14 de junho de 2013

A espantosa pergunta feita pelo ministro — da Educação! –, Aloizio Mercadante, durante visita, dias atrás, a um dos museus da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, mereceu uma educada e ilustrada resposta do jornalista, crítico de arte, gênio das artes gráficas e editor Leonel Kaz, curador de um dos mais interessantes e criativos museus do país, o Museu do Futebol, em São Paulo, e uma das pessoas mais cultas e inteligentes que conheço.

Tomara que Mercadante aprenda algo. Confiram:


Artigo publicado no jornal O Globo

O LUGAR DO MUSEU NA EDUCAÇÃO

“O que o museu tem a ver com educação?”

Essa pergunta do ministro da Educação, Aloízio Mercadante, na imprensa e repercutida na Coluna do Noblat (3/6) do Globo, merece algumas ponderações. Faço uma dezena delas:


1. Museu é lugar para se entrar de corpo inteiro, tridimensionalmente, com todos os sentidos despertos. Cada obra de arte ou objeto exposto nos convida a olhá-lo, a partilhar dele, a se entregar a ele. Esse é o caminho da educação de qualidade: permitir que a vida nos invada e que o objeto inanimado ganhe um vislumbre novo, a cada dia, em cada visita. O Grande Pinheiro, tela de Cèzanne no Masp, pode ser vista cem vezes e, a cada vez, será diferente da outra; o quadro, de certa forma, muda, porque muda o mundo e mudamos nós também.


2. Museu é lugar, portanto, de olhar de forma distinta para as coisas. E para os seres também. É lugar de aprender a olhar com outro olhar para o outro (que quase nunca o vemos), para a escola (que pode ser, a cada dia, diferente do que é habitualmente) e para a cidade (que tanto a desprezamos, porque parece não nos pertencer).


3. Museu é lugar de entrar e dizer: é nosso! Museus são lugares de coleções, e as cidades, também. Cidades são escolas do olhar, pois nos permitem colecionar tudo de nossa vida: os dias que passam, a família que reunimos, os amigos que temos e ainda os bueiros da rua e as janelas que vislumbramos em nosso caminho diário (elas falam de épocas diferentes, narram histórias distintas). A cidade é a história.


              O Museu de Arte de São Paulo (MASP) (Foto: O Globo)

4. Museu é lugar onde a cidade (a história) se reconta. Rebrota. Onde ela nos faz crer que, para além do mero contorno do corpo, existimos. Criamos uma identificação com aqueles fatos e pessoas que ali estão, que nos antecederam em ideias, pensamentos e sentimentos. Que ajudaram a criar “o imaginário daquilo que imaginamos que somos”, como definiu o poeta Ferreira Gullar. É dentro da plenitude deste imaginário que o Museu nos reaviva a memória e o fulgor da boa aula.

5. Museu é o lugar do mérito, onde peças e imagens entraram porque mereceram entrar, porque foram, em algum momento, singulares. Elas estão ali para nos apontar que cada qual que as visita pode ter sua singularidade, e que ninguém precisa ser prisioneiro dos preconceitos do mundo. Museu é onde a cultura aponta à educação que tanto um como o outro foram feitos para reinventar o modo de ver as coisas.

6. Museu é lugar para se abandonar a parafernália eletrônica, os iPads, iPhones e Ai-ais e permitir que obras e imagens que lá se encontram repercutam em nós. Num museu somos nós os capturados pelos objetos, somos nós o verdadeiro conteúdo de cada museu, com a capacidade de transformar e sermos transformados pelo que nos cerca.

7. Museu é lugar para criar um vazio entre o olhar que vê e o objeto que é visto. Um vazio de silêncio. Um vazio que amplia horizontes de percepção. Assim, o professor deixa de ser professor e passa a ser o que verdadeiramente é: um inventor de roteiros, um “possibilitador” de descobertas. É lugar de aluno, com a ajuda dos mestres, revelar potencialidades insuspeitas, tantas vezes esmagadas pelo caráter repressor das circunstâncias que o cercam.

8. Museu é lugar de experiência. Tudo o que é pode não ser: há uma mágica combinatória em todas as coisas, como as crianças nos ensinam. Tudo pode combinar com tudo, independentemente de critérios, ordenamentos, hierarquias. A ordem do museu pressupõe a desordem do olhar.

9. Museu é ainda lugar de coleções (embora a internet seja, hoje, o maior museu do mundo). Assim, o museu não é mais apenas um espaço físico, assim como a escola não o é. A cidade toda é uma grande escola. O Museu é uma de suas salas de aula.

10. Museu é o lugar em que “a criança se educa, vivendo” como nos ensinou, desde 1929, o educador Anísio Teixeira, ao falar da escola.


Leonel Kaz é curador do Museu do Futebol

http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/leonel-kaz-responde-a-espantosa-pergunta-do-ministro-aloizio-mercadante-sobre-o-que-e-que-museu-tem-a-ver-com-educacao/

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A CULTURA É INULTIL, FELIZMENTE, por Juan Peces

   Artes, Filosofia, Dança, artesanato... Nao interpretem mal gente, a inutilidade ai se da no caso de ela (a cultura)despertar aquela pergunta "mas voce faz o que para viver" ou seja, cultura enriquece a pessoa intelectualmente porem nem sempre é rentavel e tem que gostar mesmo para se sobressair a tantas criticas e dificuldades. Leiam que o texto é interessante. E ainda bem mesmo que ela é inutil!!! :)

A cultura é inútil, felizmente, por Juan Peces

              Uma imagem composta para representar a leitura e a cultura em geral como um refúgio. 

Uma imagem composta para representar a leitura e a cultura em geral como um refúgio.

   O noticiário policial de 26 de dezembro de 2013 em Paris relata que um escritor desesperado, farto de instituições indiferentes à sua paixão pela cultura, arremessou seu carro contra os portões gradeados do Palácio do Eliseu. O motorista, Attilio Maggiulli, não pôde suportar o que considerava um desprezo oficial ao projeto da sua vida, o Théâtre de la Comédie Italiénne – que perdeu quase 50% de financiamento público em três anos –, e não encontrou melhor maneira de apresentar suas queixas do que carimbar sua indignação contra a residência oficial da presidência da República Francesa.

   Até aqui tem-se o resumo da história de Maggiulli. A notícia remete, no entanto, à história de outro escritor indignado, o professor italiano Nuccio Ordine* (nascido em Diamante, região da Calábria, daí o nome Diamante Ordine em sua certidão de batismo). Com personagens iguais ou parecidos – uma cultura apunhalada, uma educação asfixiada e um povo adormecido –, Ordine, de 55 anos, preferiu usar a palavra para atacar a ignorância das instituições e alertar sobre seus efeitos para a cidadania. Se deixarmos que nos roubem o legado de nossos antepassados e que se mutile o conhecimento, alerta, não apenas deixaremos de ser pessoas cultas, como também todas as gerações futuras deixarão de ser pessoas em sentido estrito.

    O veículo usado por Ordine para seu grito profético é o manifesto chamado L’utilità dell’inutile (“A utilidade do inútil”, sem tradução no Brasil).(...)
   
   O filósofo italiano Nuccio Ordine. / EFEA tese central do livro pode ser resumida na ideia de que a literatura, a filosofia e outros conhecimentos humanísticos e científicos, longe de serem inúteis – como se poderia deduzir por seu progressivo isolamento nos planos educacionais e nos orçamentos ministeriais –, são imprescindíveis. 

“O fato de [tais conhecimentos] serem imunes a qualquer expectativa de benefício” representa, segundo o autor, “uma forma de resistência aos egoísmos do presente, um antídoto contra a barbárie do útil, que chegou a corromper inclusive nossas relações sociais e nossos afetos íntimos”.


O filósofo  italiano Nuccio Ordine./  EFE

Como em um coro grego, Nuccio Ordine monta uma defesa do conhecimento apoiando-se nos autores que o precederam em sua empreitada. Dante, Petrarca, (...), Hugo, Montaigne… Eles são recrutados e contextualizados para mostrar “o peso ilusório da posse e seus efeitos devastadores sobre a dignitas hominis, o amor e a verdade”.

Por que este livro? “Há 24 anos venho tentando convencer meus alunos de que não se frequenta a universidade para obter um diploma, mas para tentarmos ser melhores, isto é, para aprendermos a raciocinar de forma independente.” Para Ordine, a transmissão do amor pelo conhecimento é um esporte de combate. E isso implica desmontar algumas ideias materialistas difundidas pelo sistema capitalista. “As pessoas pensam que a felicidade é um produto do dinheiro. Estão enganadas!”, afirma.

Tal pretensão já se estendeu para todos os âmbitos. “O utilitarismo invadiu espaços aonde nunca deveria ter entrado, como as instituições educativas”, denuncia o professor. E alerta: “Quando se reduz o orçamento para as universidades, escolas, teatros, pesquisas arqueológicas e bibliotecas, a excelência de um país está sendo diminuída, eliminando qualquer possibilidade de formar toda uma geração”.

O autor também se apoia em um discurso de Victor Hugo – em 1848! – diante da própria Assembleia Constituinte da França, onde o escritor pronunciou estas palavras: “As reduções propostas no orçamento especial das ciências, das letras e das artes são duplamente perversas. São insignificantes do ponto de vista financeiro, e nocivas de todos os outros pontos de vista”. Ordine diz que, ao ler esse discurso, deu um pulo até o teto e se apropriou das teses de Hugo ao afirmar (exclamar, na verdade) que “nas épocas de crise é que se deve dobrar o orçamento para a cultura!”.

O manifesto inclui também um texto premonitório de Abraham Flexner, publicado em 1939, que prega a importância da ciência. “Queria que ficasse claro que a defesa do inútil [o que não é ligado ao objetivo de lucro] não diz respeito somente a escritores e humanistas, mas é uma luta que também preocupa os cientistas”, explica Ordine. “O Estado não pode renunciar à ciência básica [por causa dos benefícios advindos]; por isso escrevi um capítulo dedicado às universidades entendidas como empresas.”

A Utilidade do Inútil não é apenas uma série de argumentos contra a tendência ao utilitarismo ou o “comércio satânico” (Baudelaire): é também um manual para superar o que o autor do livro chama de “o inverno da consciência” e para lembrar, com Montaigne, que “é o desfrutar, não o possuir, que nos faz felizes”.

*Nuccio Ordine é filósofo e professor de literatura italiana da Universidade da Calábria. Lecionou na Universidade Yale, na Universidade de Nova York, na Sorbonne (Paris) e no Instituto Warburg (Londres). Desde 2012, é cavaleiro da Legião de Honra francesa. A Utilidade do Inútil é o seu mais recente ensaio.

Fonte: El País

http://defender.org.br/artigos/a-cultura-e-inutil-felizmente-por-juan-peces/

 

Pesquisar este blog

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...