Aos Leitores do blog

Sejam Bem-vindos!!! Este é um espaço dedicado a arte e aos seus (futuros) admiradores. Ele é uma tentativa de despertar em seus visitantes o gosto pelo assunto. Aqui, poderão ser encontradas indicações de sites, livros e filmes de Artes Visuais, imagens de artistas, alem do meu processo de trabalho. É o meu cantinho da expressão. Espero que sua estadia seja bastante agradável e proveitosa.
Este Blog é feito para voces e por voces pois muitas das postagens aqui presentes foram reproduzidas da internet. Alguma das vezes posso fazer comentarios que de maneira parecem ofensivos porem nao é minha intençao, sendo assim, me desculpem. Se sua postagem foi parar aqui é porque ela interessa a mim e ao blog e tento focar os pontos mais interessantes. A participaçao dos autores e dos leitores é muito importante para mim nestes casos para nao desmerecer o texto nem acabar distorcendo o assunto

terça-feira, 22 de julho de 2014

COMO A HERANÇA ARQUITETONICA FORMA NOSSA EXPERIENCIA DE LUGAR

   O texto de hoje é de uma pessoa de fora do Brasil por isso as referencias em ingles. Ele conta a influencia que a arquitetura tem sobre nos. Consequentemente e indiretamente ele fala tambem sobre a cultura. Como é longo foi dividido em 2 partes

Como a herança arquitetônica forma nossa experiência de lugar, 

por F. Kaid Benfield

      Venho tentando entender o que faz os lugares históricos tão especiais para tantos de nós. Parte da razão é que eles são relativamente raros nos Estados Unidos, eu acho. Durante várias décadas, nossa nova arquitetura cotidiana – nossas subdivisões, os blocos comerciais, prédios de escritórios – tem sido ao mesmo tempo insossa e mortalmente entediante em sua consistência.
   Todos lugares se parecem entre si, ou pelo menos parece ser assim. Apesar de isso não ser literalmente verdadeiro – alguns prédios empolgantes são construídos e erguidos, novos lugares nutritivos estão sendo concebidos –, os nossos melhores prédios e bairros antigos têm uma distinção própria quase automática.
   Mas também acho que talvez exista algo mais profundo acontecendo. Gravitamos para lugares antigos porque eles nos colocam no chão temporal e espacialmente. Também há uma literatura emergente nos ensinando que eles funcionam muito bem. Não quero fingir ter todas as respostas, mas eis alguns conceitos que gostaria de trazer para consideração.
  • Continuidade de lugar
  Deixe-me começar com um conceito que vou chamar de continuidade de lugar. Todos tivemos a experiência de estar num lugar que foi bastante transformado – pela demolição de um grupo de edifícios, talvez, ou pela construção de novos prédios – desde a última vez em que ali estivemos. Às vezes a mudança pode acontecer em só uma semana. As coisas parecem meio erradas, fora do lugar. Geram ansiedade, enquanto tentamos nos localizar e procurar na memória como as coisas eram antes. Essa ruptura na continuidade pode ser irritante.
   No ano passado, Tom Mayes escreveu um artigo para o Preservation Leadership Forum que considera as associações positivas que temos com a continuidade:
   “A ideia de continuidade é que, num mundo em constante mudança, lugares antigos dão às pessoas a sensação de fazer parte de um contínuo necessário para a saúde mental e psicológica. Essa é uma ideia que há muito tempo é reconhecida como um valor subjacente à preservação história, apesar de nem sempre explicado. Em With Heritage So Rich (em tradução livre, com um patrimônio histórico tão rico), a ideia de que a continuidade é capturada na frase ‘senso de orientação’, a ideia de que a preservação dá “um senso de orientação para nossa sociedade, usando estruturas e objetos do passado para estabelecer valores de tempo e lugar.”
   Mayes cita um ensaio do internacionalmente conhecido arquiteto Juhani Pallasmaa, que reforça o conceito de tempo em relação à nossa experiência de lugares antigos:
   “Temos uma necessidade mental de sentir que temos raízes no contínuo do tempo. Não habitamos somente o espaço, mas moramos também no tempo… Prédios e cidades são museus do tempo. Eles nos emancipam da pressa do presente e nos ajudam a experimentar o tempo lento e saudável do passado. A arquitetura nos permite ver e entender o processo lento da história e participar de ciclos temporais que vão além do escopo de uma vida individual.”
    Isso soa verdadeiro para mim. Há algo reconfortante em lugares antigos.
  • Pesquisa sobre ligação a lugares e continuidade
   De fato, isso já foi comprovado por pesquisas acadêmicas internacionais. Pesquisando o tópico para este artigo, encontrei um trabalho do professor malaio Norsidah Ujang sobre “Ligação com Lugares e Continuidade da Identidade de Lugares Urbanos”
Ujang argumenta que conceitos uniformes de planejamento e a “comoditização dos lugares” – tudo parecido com todo o resto – enfraquecem a identificação e a ligação com certos lugares. Depois de questionar sistematicamente 330 usuários de três ruas comerciais importantes de Kuala Lumpur, os pesquisadores concluíram que a familiaridade com um lugar contribui para sensações de conforto psicológico, enquanto “desconforto psicológico e fortes expressões emocionais” são “fortemente sentidos como reação contra mudanças físicas e intervenções inadequadas”.
   O estudo recomenda que planejadores urbanos tomem medidas para reforçar a identidade de lugar e a legibilidade, em vez de rompê-las, e busquem “garantir a continuidade da identidade de lugar por meio do entendimento dos lugares como dimensões físicas, sociais e psicológicas da experiência humana”.
   Outro aspecto importante do nosso legado arquitetônico compartilhado é que ele é, de fato, compartilhado. Nossas experiências e sentimentos de conforto pela continuidade dos lugares antigos são coletivos, não individuais. A praça central e o fórum, talvez também a velha igreja e a antiga escola – até mesmo as mansões vitorianas enfileiradas na rua próxima – nos unem, e essa coesão diminuiria se o lugar mudasse rapidamente. O legado desses lugares e construções não é apenas meu, mas nosso.
  • Engajamento cultural
  Intimamente ligado à continuidade de lugar, mas um pouco diferente, acredito, é algo que chamarei de engajamento cultural. Lugares antigos que não são familiares e com os quais não tivemos continuidade também podem provocar experiências positivas poderosas. Imagine alguém vendo as grandes pirâmides de Gizé pela primeira vez, ou um pueblo de índios americanos. Esses lugares são mágicos justamente porque temos pouca ou nenhuma experiência prévia, ou continuidade, com eles.
   Em vez de nos confortar com sua familiaridade, esses lugares desafiam nossa imaginação ao invocar outros tempos e ao nos conectar com culturas passadas de maneiras a que não estamos acostumados.   
   Eles nos educam e nos equipam com uma visão de mundo mais ampla e profunda – uma visão que nos liga com a sabedoria do passado –, a qual podemos então trazer para nossa existência contemporânea.
    Tenho um exemplo favorito, mas mais modesto, que coloco em meu novo livro People Habitat: 25 Ways to Think About Greener, Healthier Cities (Habitat das pessoas: 25 maneiras de pensar em cidades mais verdes e mais saudáveis, em tradução livre). A apenas alguns quilômetros da minha casa, logo depois da fronteira de Maryland com Washington DC, há um parque de diversões antigo e parcialmente restaurado, da era Art Déco. O antigo carrossel ainda funciona durante a temporada e deleita as crianças; você ainda pode comer algodão doce por lá. Mas não é mais um parque de diversões – não há montanha russa, e o salão onde ficavam os carrinhos de trombar hoje é usado de vez em quando para shows. Com certeza é diferente de qualquer parque de diversões que eu já vi na vida.
   Hoje, ele existe com um lugar de descanso para adultos e de brincadeiras para as crianças e como uma evocação de um parque de diversões, em vez de um parque 100% funcional. Ele desafia o visitante a trazer consigo sua imaginação, para que nos encontremos na metade do caminho: como uma expressão parcial de um passado e uma cultura que não existem mais da mesma maneira. Vou sempre ao Glen Echo Park porque, além de estar no caminho de um dos meus roteiros de treino de bicicleta, eu o amo de um jeito que não amaria se ele fosse novo, mesmo que fisicamente o parque fosse igual. Ele faz uma ligação com conexões culturais que não existiriam se eu soubesse que o lugar não teve uma história anterior para dividir com seus visitantes.

continua dia 29/07

terça-feira, 8 de julho de 2014

SOBRE A POLEMICA PROPAGANDA DO REMEDIO ANADOR E OUTROS (pre) CONCEITOSonceitos (sobre museus e arte)

 
 Propaganda do remédio Anador

  A postagem de hoje não é para fazer propaganda contra ou a favor desta marca e sim  para falar sobre o preconceito existente em relação as instituições artísticas e a própria arte. Quem ai já não ouviu falar que "Quem vive de passado é museu", agora a expressão a cima "Quem fica parado no tempo é museu", se professor não é profissão imagina professor de arte ou artista que fica divagando ou perambulando e rabiscando por ai?
  Primeiro farei alguns esclarecimentos sobre as artes depois sobre estas expressões: Primeiro que todo professor trabalha sim e muito alem da sala de aula isso sem contar que as vezes o pessoal acha q eles tem que virar pai dos alunos ne. Professor de artes e artistas vivem de afetação (fatos que mexem com o seu ser) por isso eles precisam buscar inspiração não é num lugar fechado e sim andando por ai, viajando e lendo o livro pois do contrario eles não se sensibilizam, precisam de experiência do seu entorno, ainda mais quando precisam viver do seu trabalho que já não é fácil. 
   Já sobre as frases a cima, se quem vive de passado é museu ou se ele fica parado no tempo como explicar os museus de Arte Contemporanea que estão espalhados por todo o Brasil, os museus interativos tais como o da Língua Portuguesa, enfim, eles mostram o passado é? Só se for o de ontem.   
  Mesmo os museus do "antigo" precisam se atualizar e estão sempre oferecendo oficinas ou criando alguma interação/novidade para seu publico que muitas vezes não vão visita-los. Então quem fica atrasado e parado no tempo é justamente esse pessoal que tem este pensamento.
   Museu é um espaço formador de opinião (é uma escola não formal) assim como as escolas então não podem parar, têm que acompanhar os acontecimentos.
   Vamos pensar melhor nisso e abrirmos mais nossa mente que esta atrasada? Concordam.

Ate a próxima


terça-feira, 1 de julho de 2014

O MUSEU EO ARTISTA parte 2


 Continuando o texto da semana passada...

Romper com os conceitos tradicionais da arte era uma preocupação do artista que se posicionava como um guerrilheiro no circuito de arte:


“O que me interessa em arte é criar linguagens ou propor novos sistemas de codificação. A linguagem nunca foi fixa, está sempre em mudança, quando a tecnologia avança surgem novas linguagens, novas formas de arte, novas atitudes, novos comportamentos” (Almandrade – 1975)


“No mundo dos signos o artista é um operário ou guerrilheiro da linguagem armado com a teoria da informação e a semiótica, a todo o momento ele está preparado para lutar contra as linguagens acadêmicas propondo novas codificações e envolvendo o público no processo criativo” (Almandrade – 1976)


Instituição paradigmática para a arte contemporânea, conhecer seu espaço físico e a ideologia que a envolve era uma necessidade do artista experimental. Realizei algumas exposições que tinham entre os seus objetivos discutir o museu: O Sacrifício do Sentido, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 1980, a primeira exposição individual de arte contemporânea na Bahia e a instalação “Público/Privado”, montada no Museu de Arte Moderna da Bahia e no Museu de Arte moderna do Rio de Janeiro, em 1982.


As dificuldades eram muitas, fui recusado nos salões locais por fazer uma opção pelo “contemporâneo”. A exposição do “O Sacrifício do Sentido” não foi bem vista pela crítica provinciana e pelo público baiano. Paguei caro. Hoje a coisa está inversa, a arte contemporânea está em todos os lugares, se exige muito pouco do artista. O que mais interessa é o turismo e o lazer, estimular o consumo disponibilizando produtos com prazos de validade, para acelerar o vetor da economia.


Nesse contexto, as iniciativas dos museus dependem do tráfego de influência e da inteligência de quem está à frente da instituição. Entre a burocracia excludente dos editais, as leis de incentivo e a superioridade do mercado, os museus encontram-se sem os recursos necessários para realizar seus projetos e manter uma programação livre de pressões externas que comprometem seus compromissos culturais. Depois da censura, da repressão, do “milagre econômico”, a indústria cultural e de entretenimento ocupa o centro da decisão.


Há urgência por parte do mercado de uma demanda de novidades que resultam em mostrar o que ainda não nasceu. Para o artista consciente do seu papel, o museu é uma oportunidade de mostrar de maneira crítica uma produção de arte e contribuir para a formação e a informação do circuito artístico. Por isso mesmo ele deve opinar na sua política cultural, não só expor, pensar, discutir e participar da produção curatorial.


Pensar sobre a natureza do museu de arte e o trabalho do artista é um desafio da prática museológica, principalmente com a desmaterialização do objeto de arte que implica em transformações e atualizações na forma de mostrar, documentar e armazenar. Há uma dependência recíproca entre museu e artista. O lugar onde está o suposto objeto de arte imprime uma marca ou explicita leituras. A instituição museológica com sua dimensão reflexiva tem o papel legitimador e mediador.

Almandrade é artista plástico, poeta e arquiteto.

Fonte: Cultura e Mercado 

Fonte de onde foi retirada Defender
Proxima postagem: Sobre a polemica do Anador e outros preconceitos (sobre museus e arte)

terça-feira, 24 de junho de 2014

O MUSEU E O ARTISTA, por Almandrade (parte 1)

  O texto de hoje foi dividido em duas partes, nele o autor/artista fala sobre a importancia que o museu ganhou para o artista e esta transição começou com a arte conceitual no Brasil. Nesta arte o resultado pode ser apenas uma palavra imagem mas o conceito/conteudo que ela carrega é forte e o observador precisa refletir sobre ele principalmente no momento em que esta arte foi criada (anos 60, ditadura e repressao)

O Museu e o Artista

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Com o crescimento da importância dos museus no mundo contemporâneo, fala-se até em reserva de mercado para os especialistas de museu. Um artista falar de museu, hoje em dia, pode fazê-lo parecer um intruso, transformado em agente do espetáculo. Ele foi excluído do processo de formatação de uma política para a instituição. Mediante a autorização de um terceiro, o curador, ele tem permissão para mostrar seu trabalho no espaço museológico. Diferente da década de 1970, no auge da arte conceitual, quando o artista pensava em ocupá-lo como um lugar estratégico.


Relembrar e refletir sobre alguns momentos que, a meu ver, são significativos para a arte contemporânea, é demarcar posições, posturas do olhar diante do mundo, como o reconhecimento do sistema da arte: uma reprodução simbólica do outro, o da sobrevivência diária. A geração de artistas pós Ato Institucional Nº 5 sentia na pele medo de ocupar a rua, optava pelo interior dos museus, principal instituição do sistema da arte. Transgredir suas regras era uma forma de intervenção materialista que norteava certas instalações. Nessa época o mercado pouco se interessava por arte contemporânea.


Os anos de 1960 e 1970, em decorrência do regime militar no Brasil, foram agitados no campo cultural: censura, perseguição a manifestações artísticas interpretadas como subversão. Os artistas, que viviam a passagem da modernidade para contemporaneidade, eram obrigados a inventar estratégias simbólicas e metafóricas para romper o cerco à liberdade de expressão. A consciência do sistema da arte (público, artista, obra e instituição) fez com que o artista percebesse o museu como uma instituição de legitimação da obra de arte, alvo de intervenções para desarticular suas inscrições e provocar o espectador.


Com a “Arte Conceitual”, a obra passou a ser de ordem mental e reflexiva, disponibilizando inúmeras formas de expressão artísticas possíveis para o desenvolvimento do trabalho do artista plástico contemporâneo. O público deixou de ser um observador passivo, ele foi obrigado a refletir sobre a obra de arte e o seu discutível entendimento não era mais direto. Mas a Bahia, por exemplo, com sua produção defasada, ainda era provinciana e hostil a qualquer manifestação que não correspondesse às linguagens bem comportadas das “Belas Artes”.


Nas últimas décadas, o museu com sua arquitetura imponente – cujo investimento tecnológico para a sua modernização não é um diferencial, mas uma necessidade de cumprir as funções de preservar, investigar e comunicar – ganhou uma dimensão pública. Por outro lado, o mercado cresceu e concentrou o foco do artista, afinal ele precisa viver de seu trabalho e o museu de arte passou a ser o lugar que recebe sua produção e faz o reconhecimento. Muitas vezes, confundido com playground para atrações em nome da uma “contemporaneidade” a serviço do entretenimento, os museus de arte têm suas programações pressionadas pela democracia dos editais e as leis de incentivo, comprometendo sua missão sociocultural.


A minha vivência no campo específico dos museus teve início de uma forma menos convencional, em meados da década de 1970, como artista plástico agindo nos limites da Arte Conceitual. A arte pensada como uma intervenção num espaço institucional específico, em particular o museu, esse lugar privilegiado para a produção, reprodução e divulgação do conhecimento. Para exposição e acondicionamento de um acervo. Conhecer seus mecanismos e sua arquitetura era requisito indispensável para o artista que buscava um olhar complexo, um olhar crítico do todo, uma relação e articulação mais profícua, entre diversos saberes que repercutiam na produção e na leitura da obra de arte.

Continua dia 30/06

terça-feira, 17 de junho de 2014

VIVENDO MOMENTO DE TRANSIÇAO: Arte deve se separar da modernidade?

Obs: As postagens não estão tão corrente pois após escrever o blog por pelo menos 7 anos fica difícil achar um assunto semanal ainda mais quando não se esta tão antenada com o que acontece.
  
  Bom dia, o post de hoje, comenta como a arte evolui conosco e ao mesmo tempo nos traz estranhamento pois na minha opiniao algumas mudanças ocorrem naturalmente na nossa vida cotidiana porem quando a arte a coloca, a expoem, nos muitas vezes nos chocamos ou a rejeitamos porque não acompanhamos/aceitamos a mudança tao verdadeiramente assim.

Vivendo momento de transição, arte deve se separar da modernidade  

 Charles Esche, UOL Notícias


Artigo de Charles Esche, curador da Bienal de SP, originalmente publicado no UOL Notícias em 1 de junho de 2014.

Não é muito fácil mudar. Todos nós subestimamos o quanto nos sentimos seguros com verdades e convicções familiares. Paradoxalmente, muitas vezes nos aferramos a elas mesmo quando não nos satisfazem nem explicam muito bem nossas experiências concretas. Graças ao convite para ser curador da 31ª Bienal de São Paulo, tive a chance de viajar pelo Brasil e ver algumas de minhas próprias verdades e convicções básicas transformadas no processo.
Como participante de uma equipe curatorial, observo que o Brasil, ao lado de muitos outros lugares, está vivendo um momento de transição, não só na arte mas também na sociedade, na economia e na política. Algumas das ideias mais básicas sobre a vida moderna e a modernidade estão dando lugar a novas possibilidades e aspirações. Surgem fenômenos que ainda não conseguimos descrever, e isso gera uma impressão quase tangível de que se vive no entremeio de tempos, espaços e identidades.

Uma das tarefas da arte é ajudar o moderno a desaparecer para que as experiências concretas de vida se tornem visíveis

Nossas jornadas pelo Brasil nos levaram a alguns trabalhos fabulosos e a alguns pensamentos muito claros sobre nossa condição corrente. Mas, em geral, ainda sentimos uma forte paixão e um grande comprometimento com a modernidade brasileira.
Esse impulso emocional aproxima-se da nostalgia, pois as certezas da era moderna não se encontram apenas no Brasil, e são um desafio em todos os locais que se engajaram nos ideais modernos. Isto me leva a suspeitar que uma das tarefas da arte hoje é aplainar a trilha da transição e ajudar o moderno a desvanecer-se para possibilitar que as experiências concretas de vida hoje se tornem visíveis.
Na preparação da 31ª Bienal encontramos trabalhos artísticos que se reportam mais a tradições pré-modernas ou mesmo não modernas. Embora outrora possam ter parecido "fora do tempo", agora se mostram muito relevantes para o presente.
Nesta mesma linha, algumas das tentativas mais obscuras ou descartadas de imaginar o mundo durante os tempos modernos estão se tornando hoje maduras para reavaliação, e podem ser muito úteis à reflexão sobre a natureza de nossa transição corrente. Procuramos reunir projetos desse tipo de forma a possibilitar que a percepção global sobre a Bienal seja a de um fluxo de culturas e sociedades em busca de novos lugares em torno dos quais se aglutinar e estruturar.
Está bem claro que as velhas hierarquias de uma ordem mundial com identidades fixas para pessoas e nações estão perdendo terreno para o que se poderia chamar de humanidade superdiversa.

Comprometimento com a modernidade brasileira aproxima-se da nostalgia

Grupamentos temporários e dinâmicos de opiniões, ações comuns e personalidades hoje se formam para fins particulares, e mesmo assim moldam nosso entendimento do quadro social e político mais amplo. Parece haver uma necessidade mais geral de se entender onde reside o potencial para a sociedade humana e de renegociar a relação entre o individual e o coletivo em favor do que podemos compartilhar e usar, em lugar de apenas possuir.
À medida que essas mudanças na sociedade tomam seu curso, é inevitável o surgimento de antagonismos e o agravamento dos protestos. Existem muitos interesses investidos nos velhos sistemas modernos de organização que ainda não deram o último suspiro.
Mesmo assim, penso que podemos olhar para a situação atual do mundo com um grau de otimismo. A mudança está a caminho, a direção da viagem é mais ou menos clara e o ímpeto se encontra nas relações abertas, diversas, plurais e emaranhadas que estão sendo geradas.
Espero que possamos captar um pouco de sua energia sob o estandarte da 31ª Bienal. Porém, mais importante que as discussões e o debate em torno dela será abraçar esta ideia de transição, analisá-la e usá-la como um caminho para compreender algo sobre como vivemos

fonte:  http://www.canalcontemporaneo.art.br/brasa/archives/006089.html

Proxima Postagem: 24/06 O museu e o artista parte 1. Texto dividido em 2 partes.

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