foto Representando a Guarda das memorias
Logo apos eu fazer uma breve contextualização sobre o que é o Patrimonio me sai uma noticia dessa para reforçar e confirmar a importancia do mesmom.... Juro que nao foi premeditado mas valeu a pena.
Logo apos eu fazer uma breve contextualização sobre o que é o Patrimonio me sai uma noticia dessa para reforçar e confirmar a importancia do mesmom.... Juro que nao foi premeditado mas valeu a pena.
19/10/11 • Artigos • Rio Grande do Sul -
Por José Francisco Hillal Tavares Botelho*Delegado Regional da Defender
Existe
uma lição extremamente sutil, e geralmente despercebida pela maioria
das pessoas, na onda de crises que vêm assolando o que antes
conhecíamos como “Primeiro Mundo”. Todos já sabemos que as outrora
pujantes economias européias adentraram uma fase histórica de decadência
e desaceleração – mas enquanto vemos as bolsas despencarem de Atenas a
Londres, existe uma pergunta que até agora poucos fizeram. A pergunta
é: diante desse horizonte de turbulências financeiras, o que seria dos
países europeus se não fosse por seu exuberante (e bem cuidado)
patrimônio cultural e histórico?
Não é preciso um diploma em economia para se perceber que a preservação do patrimônio e da memória, hoje, é o que salva a Europa de um futuro ainda mais sombrio e caótico. Durante décadas – ao menos, desde a Segunda Guerra Mundial – países como França e Itália investiram de forma profunda e ampla na manutenção de sua cultura edificada. Agora, passados os loucos anos do crescimento econômico supostamente ilimitado, esses países contam com uma sobranceira tábua de salvação: o turismo cultural. Por mais endividadas que andem as empresas francesas e italianas, pessoas do mundo inteiro continuarão viajando a Roma e a Paris, para ver de perto algumas das ruas e das construções mais belas e charmosas do mundo.
Poderíamos
complementar esse raciocínio construindo uma distopia: imaginemos
agora que franceses e italianos houvessem destruído todos os seus
bulevares, demolido o Coliseu e as vielas de Florença, soterrado em
concreto as praças de Veneza e posto abaixo a Catedral de Notre Dame e
as escadarias de Montmartre – tudo para erguer estacionamentos, prédios
comerciais e condomínios de trinta andares. Ao apagar seu passado, que
tipo de futuro restaria a esses países?
Coliseu:"Este grandioso anfiteatro foi
construído no centro de Roma em honra
aos legionários vitoriosos e para celebrar
a glória do império romano.
O seu design
conceitual mantém até aos
nossos dias, uma vez que após cerca de
2000 anos,
praticamente todos os
modernos estádios desportivos
continuam a ter o cunho
inconfundível Catedral de Notre Dame
do design original do Coliseu."
A lição, enfim, é esta: a beleza não é um capricho, e a cultura não é uma frivolidade etérea. Um povo que leiloa sua identidade está condenando as futuras gerações não somente à pobreza espiritual, mas também à mais material das indigências. Sem políticas que preservem e valorizem os traços estéticos e arquitetônicos de uma região, fica- se à mercê dos humores imprevisíveis dos mercados e da oscilação bipolar dos capitais globalizados. Cultivando e respeitando o passado histórico e a herança estética, as comunidades plantam o alicerce de um futuro menos abismal, menos histérico, e mais humano.
E nem precisamos cruzar o Atlântico para evidenciar o benefício econômico da preservação cultural. Aqui, bem perto de nós, há duas cidades que renasceram das trevas financeiras graças a corajosas cruzadas pela salvaguarda da memória histórica. Jaguarão, pequeno município perdido no pampa, tornou-se referência turística – e converte- se gradualmente num pólo cultural efervescente, cuja indústria hoteleira e de serviços não para de crescer. Tudo isso por conta dos tombamentos realizados na cidade pelo Iphan. Já Pelotas, que até alguns anos atrás tinha ratos correndo em suas praças, reverdeceu em dignidade e autoconfiança, por conta da campanha de restaurações de seu extraordinário patrimônio arquitetônico. Quem hoje anda por Pelotas tem a impressão de estar em uma cidade que cresce no real sentido da palavra – ou seja, amadurece, aprimora- se e respeita a si mesma.
Um exemplo mais limitado, e todavia muito contundente, é o do Centro de Porto Alegre. Até meados dos anos 2000, a área era uma das mais degradadas da capital. A expansão imobiliária mal planejada e desordeira havia deixado em seu rastro ruas sujas, praças escuras e milhares de negócios falidos. Mas os projetos de restauração dos prédios históricos fizeram a região renascer dos escombros – o resultado é que hoje todos os imóveis ali se valorizaram, o comércio renasceu e o bairro voltou, inclusive, a ter um caráter residencial. Naturalmente, ainda resta muito por fazer – o Viaduto Otávio Rocha, espécie de coração profundo do patrimônio edificado porto-alegrense, continua mergulhado no esquecimento e no desleixo; o magnífico Edifício Hermann continua sob risco de demolição; e de tempos em tempos vemos mais fachadas descaracterizadas ou simplesmente ruindo. Enfim, não se desfaz de uma hora para outra o efeito de décadas de abandono moral; mas é inegável que, pouco a pouco, a capital gaúcha volta a ter algo parecido com uma alma própria.
Bagé, cidade essencialmente histórica, com um dos legados artísticos e arquitetônicos mais impressionantes do Rio Grande do Sul, deve mirar- se nos bons exemplos de suas irmãs regionais, as façanhudas Jaguarão e Pelotas – evitando cair nos precipícios da degradação urbana e da amnésia histórica voluntária. A destruição do patrimônio denota uma certa insegurança psíquica – se alguém deseja destruir o que tem, é porque não acredita ter nada de bom. Nada menos bageense que essa espécie de bairrismo invertido. (É curioso, diga-se de passagem, que o discurso gaúcho de auto-afirmação tenha negligenciado por tanto tempo esta evidente expressão de orgulho local, que é a defesa do patrimônio edificado). Encontramo-nos agora num estado de graça: podemos apostar nos potenciais da região, purgando os erros passados e semeando um futuro digno de nós mesmos; ou podemos despencar ladeira abaixo, rumo à baderna, à diluição neurótica das identidades, ao redemoinho da descaracterização e da feiúra.
A decisão é nossa.
*José
Francisco Hillal Tavares Botelho é jornalista, escritor, Mestre em
Letras e Delegado Regional da Defesa Civil do Patrimônio Histórico
(Defender) em Bagé.
Fonte: José Francisco Hillal Tavares Botelho - Delegado Regional da Defender
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