Como este blog tem como foco a cultura artistica e o patrimonio, nao poderiamos deixar de falar sobre a profissao de produtor cultural que tambem esta envolvida no assunto. Este profissional ajuda a desenvolver a cultura de um local desenvolvendo projetos e organizando eventos. Como é uma materia que surgiu a partir de pesquisa feita, entao ela possui muitos dados estatisticos e que nos ajuda a entender um pouco mais sobre estes profissionais que na maioria sao artistas interessados em promover a cultura e seus pares.
Trilhas e caminhos para a produção cultural
Gestão
(ou produção) cultural é uma profissão que, apesar de recentemente ter
sido compreendida como tal, ainda não é reconhecida formalmente no
território nacional. (isso tambem acontece com profissoes antigas)
Dos produtores/gestores culturais que responderam à pesquisa Panorama Setorial da Cultura Brasileira
2011/2012 - patrocinada pela Vale e Ministério da Cultura, por meio da
Lei Rouanet -, 64% afirmam terem começado a produzir por ter surgido a
oportunidade; 47% por serem artistas e, assim, terem se tornado
produtores de seus próprios trabalhos; 31% sugeriram que a produção de
projetos culturais é um meio para conseguirem atingir sua vocação real, a
artística; 25% e 19% indicaram a influência de amigos produtores e da
família de artistas, respectivamente; e 25% ingressaram na atividade por
pertencerem a um grupo artístico que precisava de produtor.
Porém, nestes números, existem mais informações para entendermos – de
onde vem? – este produtor, que não constam do relatório da pesquisa,
publicado em agosto de 2012.
Destes todos, vale ressaltar um dado muito representativo: 52% dos
pesquisados tiveram a oportunidade de se iniciar na atividade por serem
artistas – ainda que apenas 20% dos produtores tenham afirmado este como
principal motivo para o exercício da produção. Nesses casos, a
perspectiva pessoal incentivou em muito o exercício da atividade. Além
de ser artista, “a paixão (que tenho) pela cultura, pela arte, pela
história brasileira (…) motivou o meu ingresso na atividade”, conta um
artista-produtor entrevistado.
Claro que a necessidade também entrou em ação na hora de ‘motivar’ os
artistas a exercerem a função de produtores. 41% dos
artistas-produtores – 21% do total de produtores entrevistados –
pertencem a um grupo artístico que precisava de alguém para produzir.
O interessante é que, dos artistas que se tornaram produtores, apenas
7,5% enxerga os artistas brasileiros como “artistas-produtores”. Nesta
perspectiva, apontam que os artistas que se produzem são “muito
criativos porque fazem de tudo um pouco, carregam e tocam o piano ao
mesmo tempo (…) desde a criação do projeto até sua finalização”,
“multiplicam-se para atender o público”.
O índice de 7,5% de “artistas-produtores” para definir os artistas
brasileiros também representam a perspectiva dos produtores que não são
artistas.
Esses números são constrastantes com o percentual de produtores que
ingressaram na atividade por serem artistas. Porém, tornam-se
irrelevantes se comparados com os 76,5% de artistas que se tornaram
produtores e vêem os artistas brasileiros como alguém
“dedicado/apaixonado” e, assim, natural que toda e qualquer tarefa seja
realizada em nome de sua arte.
Em geral, essa percepção apareceu ligada à obstinação do artista em
desenvolver sua atividade artística, mesmo que em situações adversas.
Isto os faz “guerreiros apaixonados pela causa”, já que “não têm o apoio
de ninguém – governo, patrocinador – e têm muita dificuldade para
sobreviver”.
Destes mesmos artistas que se tornaram produtores, 34,5% verificam
que os produtores são viabilizadores, “pessoas importantes dentro dos
projetos”, que “permitem que os artistas trabalhem e mostrem seu talento
e seu trabalho”. 29% dos entrevistados que não são artistas enxergam os
produtores da mesma forma, caracterizando-os como “intermediadores da
arte e do patrocínio”.
Para 32% dos artistas-produtores, os produtores culturais são
guerreiros, heróis por trabalharem em um mercado em que “as dificuldades
são imensas como, por exemplo, ter pouco incentivo, respeito e
informação geral sobre a profissão”. Isso é percebido por 27% daqueles
que não são artistas.
Já 29,5% dos artistas-produtores verificam que são “profissionais que
desenvolvem, planejam e executam projetos culturais”, contra 15% dos
não artistas, que compreendem o produtor como “articuladores que fazem
tudo num projeto cultural”, já que “é difícil montar uma equipe com bons
profissionais (…) cabe ao produtor fazer tudo ao mesmo tempo, atuar em
várias frentes”.
Será mesmo por isso que ingressaram na atividade?
Dos produtores que desenvolveram e explicaram em maiores detalhes por
que produzem (6,2% do total dos entrevistados), 26% afirmaram que o que
os motiva são questões sociais, como “viabilizar o resgate do nosso
patrimônio cultural de bens, móveis e imóveis”, ou ainda a “melhor
qualidade cultural da cidade”.
“O que me faz produzir é ajudar as pessoas de menor poder aquisitivo a
terem acesso à cultura” e “ajudar as pessoas” foram explicações que
caminharam no sentido de fazer com que o papel do produtor se assemelhe
com funções filantrópicas e, às vezes, assistencialistas. Será?
Certamente este não é o ponto de vista de um grupo menor de
produtores. 6,5% deles acreditam que a produção é um negócio e
constituem um “empreendimento (…) na área cultural”.
Há também os que acreditam no trabalho de produção e se realizam
pessoalmente a partir dele. Esse é o caso de 29% dos respondentes que
explicaram melhor os motivos que os levaram a produzir; seja por
“realização pessoal” ou pela “satisfação do trabalho”, seja pela crença
em alguma manifestação ou arte como “a paixão pelo cinema” ou “pela
história (…) mineira”. Já outros 17% dos que detalharam seu início na
atividade discorreram sobre a necessidade de promover seus próprios
trabalhos e entenderam a produção como “única maneira de colocar a
visibilidade no meu trabalho”.
Já nem 1% dos que explanaram sobre o que os levou a produzir,
sugeriram que sua formação acadêmica os orientou nesta direção. Também
nesta mesma representatividade, verificam-se aqueles que produzem como
necessidade gerada por outro trabalho como, por exemplo, “consequência
do trabalho como diretora de escola” ou pela “oportunidade (gerada) por
desenvolver atividades com crianças”.
Sejam quaisquer dos motivos que tenham sido detalhados, percebeu-se
que a atividade da produção cultural ainda não apresenta formação
orientada para seu exercício. Além disso, seu não reconhecimento
acarreta em mercado não estruturado que, além de permitir posturas das
mais amadoras às mais profissionalizadas, favorece as mais distintas
maneiras de ingresso na atividade.
Há o que se pensar!
*Matéria escrita a partir de base de dados originária de
questionário aplicado com proponentes de projetos inscritos na Rouanet,
em entrevistas realizadas por telefone no mês de abril de 2011. Mais
informações sobre a metodologia desta pesquisa em
www.panoramadacultura.com.br.
fonte: http://www.culturaemercado.com.br/analise/trilhas-e-caminhos-para-a-producao-cultural/
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