O QUE DEFINE UM CRIATIVO?
O texto disposto a seguir foi gerado a partir de uma discussão entre membros do grupo de discussão, no Facebook, do programa Trilha 2E1. O debate foi iniciado quando a tutora Carolina Paz apresentou a seguinte questão: “escolha
uma característica que você acreditar ser fundamental em todo criativo?
O que todos têm em comum e que faz a diferença? Por que?”.
Como em qualquer discussão focando
conceitos, semântica e noções abstratas do conhecimento humano, os
assuntos em pauta tendem a dividir opiniões, criar novos ângulos de
entendimento e, comumente, gerar novos questionamentos. Essas
características são naturais do exercício filosófico necessário para o
debate de tais temas. Dito isso, é importante ressaltar que a
estruturação da síntese aqui apresentada é resultado direto da coletânea
e harmonização de múltiplas vozes de uma discussão, agora organizadas
com o objetivo de responder apenas uma indagação:
Existe uma característica única e fundamental em todo criativo?
“Risco”, “a capacidade de estabeler relações”, “uma
capacidade de antecipação. Uma visualização do que vai ser feito que é
diferente do projeto porque não é objetiva. Uma antevisão e
clarividência somadas”, “capacidade de estar sintonizado em multifrequência, num estado de aparente impermanência”, “a experimentação”, “curiosidade”… Faça essa pergunta à dez criativos e certamente você receberá onze respostas diferentes.
Não é exatamente um método de pesquisa
mais imparcial, mas então para quem poderíamos recorrer para nos dar uma
resposta comum ou definitiva? Quem é criativo? Quem não é criativo? Há
diferença entre ter novas ideias e criar novas ideias? Inevitavelmente o
debate principal teria de recorrer a um consenso sobre o que faz um
criativo ser criativo.
Wagner Priante, membro do Trilha 2E1, aponta o cerne da divergência de opiniões:
“Realmente difícil indicar uma característica, algo que perpasse todos os criativos e seja o que o defina como tal. A tautologia nos levaria à ideia de que todo criativo é aquele que ‘tem criatividade’. A questão então se desloca para o que é ser criativo, o que faz a diferença nas ações que tornam alguém, o mais consensualmente possível, criativo.”
Então se o criativo é aquele que tem
criatividade, precisamos saber o que afinal é criatividade. Felizmente
essa resposta possui um consenso mais definido entre os dicionários e
senso comum: criatividade é a habilidade de produzir algo através da
imaginação ou ideias originais, seja uma nova solução para um problema,
um novo método, ou uma nova forma ou objeto artístico.
O termo geralmente se refere a uma
riqueza de ideias e originalidade de pensamento, mas também nos sugere a
resposta da questão principal. Magda Sheeny, membro do Trilha 2E1 parece matar a charada:
“O que faz a diferença em uma pessoa, para poder chama-la de criativa, penso que seria a palavra ‘AÇÃO’. O que responderia, também, a outra questão proposta: Há diferença entre ter novas idéias e criar novas idéias? Mas uma vez,respondo: ‘AÇÃO’. (…) para experimentar, há de se ter ‘AÇÃO’.
Eny Aliperte Ferreira, através de uma curiosa pesquisa etimológica, chega à mesma conclusão em uma notável síntese:
“(…) do século XIX até o início do século XX, postulada por certos gramáticos, a distinção entre criar, ‘alimentar, educar, fazer crescer (pessoas, animais, plantas)’, e crear, ‘gerar do nada (como faz Deus) ou inventar do nada (como fazem artistas)’, distinção cedo denunciada como arbitrária (sobretudo porque a conjugação do alegado crear passava a ser mais arbitrária ainda) (…) parece então que o termo caiu em desuso, mas pensei na palavra creação, que contem o crer e ação. (…)
Carolina Paz também concorda: “Criar é verbo que se conjuga na prática.”
Para a tutora, um criativo é antes de tudo pró-ativo (e não reativo).
Em sua ação, o produto da criação é resultante do processo e não do
resultado de uma demanda externa anterior ou de consequências
posteriores. O criativo é aquele que tem criatividade. É quem age
concretamente na criação.
Essa parece ser a resposta mais
pragmática entre outras possíveis inúmeras reflexões. Ironicamente o
pragmatismo e sua distância de qualquer pensamento lúdico entra
frequentemente em choque com vários criativos que exercem sua produção
motivados por ideais ou ideias românticas (principalmente no mundo das
artes). O escritor Oscar Wilde, por exemplo, dizia que a
base da ação é falta de imaginação e que é o último recurso daqueles
que não sabem sonhar, mas ao mesmo tempo ele escreveu, publicou e é
reconhecido por suas ações e trabalhos realizados.
Sonhos e imaginação são um combustível
para criação e não a criação em si. A criação também não requer
inteligência, conhecimento, sabedoria, total originalidade, autocrítica
ou até capacidade. É definida pelo ato da ação e realização. Ser capaz
de fazer não é o mesmo do que fazer.
“Não pense. O pensar é o inimigo da criatividade. É autoconsciente, e qualquer coisa autoconsciente é horrível. Você não pode tentar fazer coisas. Você simplesmente tem de fazer coisas”. – Ray Bradbury, escritor (1920-2012)
O criativo
A criação e a criatividade é associada
frequentemente às artes pelo uso constante do processo pelos que
constituem a atividade e/ou profissão, no entanto a criatividade é
presente em toda a história humana independente de posições sociais ou
profissionais. A denominação “criativo”, como substantivo para designar
ofício ou atividade, é utilizada normalmente considerando fatores como:
frequência, grau de importância e/ou originalidade do indivíduo em
realizar criações. Paralelos podem ser traçados com diversas outras
atividades. Exemplo: Um sujeito pode ter a capacidade de cozinhar seu
próprio jantar, de criar um prato novo com os recursos que possui e/ou
conhecimentos prévios e finalmente cozinhar seu jantar. Ele criou e
cozinhou, mas não necessariamente é considerado por convenção social um
cozinheiro ou criativo. Somente a ação e a repetição constante de ações
com variações alimentadas pela imaginação, referências externas e
retroalimentadas pelo próprio trabalho podem constituir a denominação de
“criativo”. Sem ação não há a prática e sem a prática não há criação.
“Nada acontece até algo se mover.” – Albert Einstein, físico teórico e filósofo científico (1879-1955)
FOnte http://doiseum.com/trilha/o-que-define-um-criativo/#more-3190
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