Continuando o texto da semana passada...
Romper com os conceitos tradicionais da arte era uma preocupação do
artista que se posicionava como um guerrilheiro no circuito de arte:
“O que me interessa em arte é criar linguagens ou propor novos
sistemas de codificação. A linguagem nunca foi fixa, está sempre em
mudança, quando a tecnologia avança surgem novas linguagens, novas
formas de arte, novas atitudes, novos comportamentos” (Almandrade –
1975)
“No mundo dos signos o artista é um operário ou guerrilheiro da
linguagem armado com a teoria da informação e a semiótica, a todo o
momento ele está preparado para lutar contra as linguagens acadêmicas
propondo novas codificações e envolvendo o público no processo criativo”
(Almandrade – 1976)
Instituição paradigmática para a arte contemporânea, conhecer seu
espaço físico e a ideologia que a envolve era uma necessidade do artista
experimental. Realizei algumas exposições que tinham entre os seus
objetivos discutir o museu: O Sacrifício do Sentido, no Museu de Arte
Moderna da Bahia, em 1980, a primeira exposição individual de arte
contemporânea na Bahia e a instalação “Público/Privado”, montada no
Museu de Arte Moderna da Bahia e no Museu de Arte moderna do Rio de
Janeiro, em 1982.
As dificuldades eram muitas, fui recusado nos salões locais por fazer
uma opção pelo “contemporâneo”. A exposição do “O Sacrifício do
Sentido” não foi bem vista pela crítica provinciana e pelo público
baiano. Paguei caro. Hoje a coisa está inversa, a arte contemporânea
está em todos os lugares, se exige muito pouco do artista. O que mais
interessa é o turismo e o lazer, estimular o consumo disponibilizando
produtos com prazos de validade, para acelerar o vetor da economia.
Nesse contexto, as iniciativas dos museus dependem do tráfego de
influência e da inteligência de quem está à frente da instituição. Entre
a burocracia excludente dos editais, as leis de incentivo e a
superioridade do mercado, os museus encontram-se sem os recursos
necessários para realizar seus projetos e manter uma programação livre
de pressões externas que comprometem seus compromissos culturais. Depois
da censura, da repressão, do “milagre econômico”, a indústria cultural e
de entretenimento ocupa o centro da decisão.
Há urgência por parte do mercado de uma demanda de novidades que
resultam em mostrar o que ainda não nasceu. Para o artista consciente do
seu papel, o museu é uma oportunidade de mostrar de maneira crítica uma
produção de arte e contribuir para a formação e a informação do
circuito artístico. Por isso mesmo ele deve opinar na sua política
cultural, não só expor, pensar, discutir e participar da produção
curatorial.
Pensar sobre a natureza do museu de arte e o trabalho do artista é um
desafio da prática museológica, principalmente com a desmaterialização
do objeto de arte que implica em transformações e atualizações na forma
de mostrar, documentar e armazenar. Há uma dependência recíproca entre
museu e artista. O lugar onde está o suposto objeto de arte imprime uma
marca ou explicita leituras. A instituição museológica com sua dimensão
reflexiva tem o papel legitimador e mediador.
Almandrade é artista plástico, poeta e arquiteto.
Fonte: Cultura e Mercado
Fonte de onde foi retirada Defender
Proxima postagem: Sobre a polemica do Anador e outros preconceitos (sobre museus e arte)
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