O texto de hoje foi dividido em duas partes, nele o autor/artista fala sobre a importancia que o museu ganhou para o artista e esta transição começou com a arte conceitual no Brasil. Nesta arte o resultado pode ser apenas uma palavra imagem mas o conceito/conteudo que ela carrega é forte e o observador precisa refletir sobre ele principalmente no momento em que esta arte foi criada (anos 60, ditadura e repressao)
O Museu e o Artista
Com o crescimento da importância dos museus no mundo contemporâneo, fala-se até em reserva de mercado para os especialistas
de museu. Um artista falar de museu, hoje em dia, pode fazê-lo parecer
um intruso, transformado em agente do espetáculo. Ele foi excluído do
processo de formatação de uma política para a instituição. Mediante a autorização
de um terceiro, o curador, ele tem permissão para mostrar seu trabalho
no espaço museológico. Diferente da década de 1970, no auge da arte conceitual, quando o artista pensava em ocupá-lo como um lugar estratégico.
Relembrar e refletir sobre alguns momentos que, a meu ver, são significativos para a arte contemporânea, é demarcar
posições, posturas do olhar diante do mundo, como o reconhecimento do
sistema da arte: uma reprodução simbólica do outro, o da sobrevivência
diária. A geração de artistas
pós Ato Institucional Nº 5 sentia na pele medo de ocupar a rua, optava
pelo interior dos museus, principal instituição do sistema da arte. Transgredir suas regras era uma forma de intervenção materialista que norteava certas instalações. Nessa época o mercado pouco se interessava por arte contemporânea.
Os anos de 1960 e 1970, em decorrência do regime militar no Brasil,
foram agitados no campo cultural: censura, perseguição a manifestações
artísticas interpretadas como subversão. Os artistas, que viviam a passagem
da modernidade para contemporaneidade, eram obrigados a inventar
estratégias simbólicas e metafóricas para romper o cerco à liberdade de
expressão. A consciência do sistema da arte (público, artista, obra e
instituição) fez com que o artista percebesse o museu como uma
instituição de legitimação da obra de arte, alvo de intervenções para
desarticular suas inscrições e provocar o espectador.
Com a “Arte Conceitual”, a obra passou a ser de ordem mental e
reflexiva, disponibilizando inúmeras formas de expressão artísticas
possíveis para o desenvolvimento do trabalho do artista plástico
contemporâneo. O público deixou de ser um observador passivo, ele foi
obrigado a refletir sobre a obra de arte e o seu discutível entendimento
não era mais direto. Mas a Bahia, por exemplo, com sua produção
defasada, ainda era provinciana e hostil a qualquer manifestação que não
correspondesse às linguagens bem comportadas das “Belas Artes”.
Nas últimas décadas, o museu com sua arquitetura imponente – cujo
investimento tecnológico para a sua modernização não é um diferencial,
mas uma necessidade de cumprir as funções de preservar, investigar e
comunicar – ganhou uma dimensão pública. Por outro lado, o mercado
cresceu e concentrou o foco do artista, afinal ele precisa viver de seu
trabalho e o museu de arte passou a ser o lugar que recebe sua produção e
faz o reconhecimento. Muitas vezes, confundido com playground para
atrações em nome da uma “contemporaneidade” a serviço do entretenimento,
os museus de arte têm suas programações pressionadas pela democracia
dos editais e as leis de incentivo, comprometendo sua missão
sociocultural.
A minha vivência no campo específico dos museus teve início de uma
forma menos convencional, em meados da década de 1970, como artista
plástico agindo nos limites da Arte Conceitual. A arte pensada como uma
intervenção num espaço institucional específico, em particular o museu,
esse lugar privilegiado para a produção, reprodução e divulgação do
conhecimento. Para exposição e acondicionamento de um acervo. Conhecer
seus mecanismos e sua arquitetura era requisito indispensável para o
artista que buscava um olhar complexo, um olhar crítico do todo, uma
relação e articulação mais profícua, entre diversos saberes que
repercutiam na produção e na leitura da obra de arte.
Continua dia 30/06
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