Continuaçao da semana passada
Era de se esperar que as faculdades que oferecem cursos de artes
liberais dessem ênfase à educação artística, mas não é esse o caso. O
atual currículo, de estilo self-service, torna os cursos de história da
arte disponíveis, mas não obrigatórios. Com raras exceções, as
universidades abandonaram toda noção de um núcleo de aprendizado. Os
departamentos de humanidades oferecem uma mixórdia de cursos feitos sob
medida para os interesses de pesquisa dos professores. Tem havido um
gradual eclipse, nos Estados Unidos, do curso de história geral da arte,
que cobria magistralmente, em dois semestres, da arte das cavernas ao
modernismo. Apesar de sua popularidade entre os estudantes, que se
recordam deles como pontos culminantes em suas vivências universitárias,
os cursos gerais são cada vez mais vistos como excessivamente pesados,
superficiais ou eurocêntricos – e não há mais vontade institucional de
estendê-los para a arte mundial.
Jovens professores, criados em meio ao pós-estruturalismo, com sua
suspeita mecânica da cultura, consideram-se especialistas, e não
generalistas, e não foram treinados para pensar sobre trajetórias tão
vastas. O resultado final é que muitos alunos de humanidades se formam
com pouco senso da cronologia ou da deslumbrante procissão de estilos
que constituía a arte ocidental.
A questão mais importante acerca da arte é: o que permanece e por quê?
As definições de beleza e os padrões de gosto mudam constantemente, mas
padrões persistentes subsistem. Defendo uma visão cíclica da cultura:
os estilos crescem, chegam ao ápice e decaem para tornarem a florescer,
num renascer periódico. A linha de influência artística pode ser vista
claramente na cultura ocidental, com várias interrupções e recuperações,
desde o Egito antigo até hoje – uma saga de 5 mil anos que não é (como
diria o jargão acadêmico) uma “narrativa” arbitrária e imperialista.
Grande número de objetos teimosamente concretos – não apenas “textos”
vacilantes e subjetivos – sobrevivem desde a antiguidade e as sociedades
que moldaram.
A civilização é definida pelo direito e pela arte. As leis governam o
nosso comportamento exterior, ao passo que a arte exprime nossa alma. Às
vezes, a arte glorifica o direito, como no Egito; às vezes, desafia a
lei, como no Romantismo.
O problema com abordagens marxistas que hoje permeiam o mundo acadêmico
(via pós-estruturalismo e Escola de Frankfurt) é que o marxismo nada
enxerga além da sociedade. O marxismo carece de metafísica – isto é, de
uma investigação da relação do homem com o universo, inclusive a
natureza. O marxismo também carece de psicologia: crê que os seres
humanos são motivados apenas por necessidades e desejos materiais. O
marxismo não consegue dar conta das infinitas refrações da consciência,
das aspirações e das conquistas humanas.
Por não perceber a dimensão espiritual da vida, ele reduz
reflexivamente a arte à ideologia, como se o objeto artístico não
tivesse outro propósito ou significado além do econômico ou do político.
Hoje, ensinam aos estudantes a olhar a arte com ceticismo, por seus
equívocos, suas parcialidades, suas omissões e ocultos jogos de poder.
Admirar e honrar a arte, exceto
quando transmite mensagens politicamente
corretas, é considerado ingênuo e reacionário.
Um único erudito
marxista, Arnold Hauser, em seu épico estudo de 1951, A história social
da arte, teve bom êxito na aplicação da análise marxista, sem perder a
magia e o mistério da arte. E Hauser (uma das influências iniciais do
meu trabalho) trabalhava com base na grande tradição da filologia alemã,
animada por uma ética erudita que hoje se perdeu.
A arte é o casamento do ideal e do real. Fazer arte é um ramo da
artesania. Artistas são artesãos, mais próximos dos carpinteiros e dos
soldadores do que dos intelectuais e dos acadêmicos, com sua retórica
inflacionada e autorreferencial. A arte usa os sentidos e a eles fala.
Funda-se no mundo físico tangível.
O pós-estruturalismo, com suas origens linguísticas francesas, tem a
obsessão pelas palavras e, com isso, é incompetente para interpretar
qualquer forma de arte além da literatura. O comentário sobre arte deve
abordá-la e descrevê-la em seus próprios termos.
Deve-se manter um
delicado equilíbrio entre os mundos visível e invisível. Aqueles que
subordinam a arte a uma agenda política contemporânea são tão culpados
de propaganda e rigidez literal como qualquer pregador vitoriano ou
burocrata stalinista.
- Leia na íntegra este ensaio introdutório por Camille Paglia, o primeiro da obra Imagens cintilantes
Assista à Camille Paglia no canal do Fronteiras no YouTube:
- A ansiedade masculina e a civilização
- Minhas escolhas
Fonte: http://fronteiras.com/canalfronteiras/entrevistas/?16%2C341
Comentario: No meu entendimento, a autora esta questionando a falta de teoria que temos sobre arte e sem conhecimento de toda esta historia da arte nos passa despecebidos detalhes que completam e fundamentam o todo e fica vulneravel a ações do mundo, ficamos nas maos do mercado e do excesso de imagem sem poder nem saber criticar
- A ansiedade masculina e a civilização
- Minhas escolhas
Fonte: http://fronteiras.com/canalfronteiras/entrevistas/?16%2C341
Comentario: No meu entendimento, a autora esta questionando a falta de teoria que temos sobre arte e sem conhecimento de toda esta historia da arte nos passa despecebidos detalhes que completam e fundamentam o todo e fica vulneravel a ações do mundo, ficamos nas maos do mercado e do excesso de imagem sem poder nem saber criticar
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