O texto de hoje fala que é importante manifestarmos democraticamente sim nossos anseios e descontentamentos mas /patriara devemos ter cuidado com a maneira que nos expressamos pois nao é certo criticarmos uma situação descontando em nossos bens materiais criando assim crimes irreversiveis em nossa historia e/ou patrimonio. Para entenderem melhor leem abaixo.
Liberdade, democracia e patrimônio cultural
Por Ana Maria Moreira Marchesan*
Quase oito anos depois, os manifestantes contrários ao atual preço da passagem de ônibus em Porto Alegre vandalizam o prédio da prefeitura, um primor da arquitetura positivista, e que traduz uma marca na cena urbana da capital gaúcha.
Os recentes protestos contra o valor da passagem de ônibus em Porto
Alegre têm apresentado um viés nefasto e que de certa forma desqualifica
o movimento: o vandalismo, prática odiosa, porque autofágica. Recursos
que poderiam ir para a construção de uma sociedade mais feliz acabam
sendo investidos para repor, tanto quanto possível, bens públicos ou de
interesse público afetados.
Vivemos em uma democracia que permite a livre manifestação da
população. Estamos maduros como sociedade consciente de que não há
retrocesso possível. O que não podemos acatar é a depredação de nosso
patrimônio cultural _ seja ele público ou privado _ em nome de qualquer
causa, por mais justa que seja. O aspecto imaterial do patrimônio é bem
de interesse público, socioambiental, vocacionado à elevação espiritual
do indivíduo.
Em junho de 2005, um protesto de carroceiros no Paço Municipal trouxe
como consequência indesejável o dano à Fonte Talavera de La Reina, um
dos monumentos de maior valor artístico da nossa Capital, presente da
Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, no centenário da Revolução
Farroupilha, em 1935.
Ao subir na bacia da fonte, um manifestante quebrou parte da cerâmica
e jamais foi possível a recuperação integral daquele bem cultural. A
peça foi remetida à Espanha e a fonte voltou desfigurada porque a
própria artesania talaverana informou não ter mais o molde original.
Perdeu-se irreversivelmente parte da nossa memória.
Quase oito anos depois, os manifestantes contrários ao atual preço da passagem de ônibus em Porto Alegre vandalizam o prédio da prefeitura, um primor da arquitetura positivista, e que traduz uma marca na cena urbana da capital gaúcha.
Essa atitude iconoclasta nos remete aos primórdios da Revolução
Francesa no período conhecido como Terror, quando houve uma política de
destruição das obras de arte arquitetônicas ligadas ao Ancient Régime.
Esse movimento de destruição suscitou uma reação de defesa que objetivou
não apenas conservar as igrejas medievais, mas estabelecer uma política
de preservação do patrimônio nacional. Revolucionários com uma visão
prospectiva criaram uma comissão para inventariar esses bens que
passaram a ser patrimônio do povo francês.
Essa breve referência histórica busca despertar nossa reflexão para
que possamos doravante construir práticas democráticas que não se voltem
contra os bens de nossa memória, por mais representativos de uma
hegemonia que nos parece repulsiva, mas que precisa ser preservada para
que a história possa ser contada pelos testemunhos sem voz de nossos
bens culturais imóveis. Bens que por sua simples presença contam
histórias e que merecem ser “ouvidos” pelas presentes e futuras
gerações.
*Promotora de Justiça
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