Um olhar amplo e diverso no mundo das artes (parte 2)
No Brasil, artistas mulheres já ocupam há muito tempo um espaço
central na produção artística moderna e contemporânea. Tarsila do
Amaral, Anita Malfatti, Djanira da Motta e Silva, Maria Auxiliadora,
Maria Martins, Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel, Adriana Varejão,
Beatriz Milhazes, Jac Leirner, Sonia Gomes, Rivane Neuenschwander –
nenhuma delas fica aquém, seja em prestígio, reconhecimento ou valor de
mercado quando comparadas a seus pares masculinos. Porém, nosso circuito
artístico tradicionalmente apresentou pouca abertura para abraçar
minorias e artistas fora do cânone tradicional. Este não é mais o caso
e, além do MASP, outras instituições públicas, como a Pinacoteca do
Estado, estão em busca de maior diversidade, como evidencia a aquisição
em 2019 por meio do Programa de Patronos da instituição, de diversos
trabalhos de artistas indígenas. Basta ver que neste exato momento na
cidade de São Paulo, a mostra da Bienal de São Paulo traz uma importante
apresentação do artista indígena Jaider Esbell e a Pinacoteca do Estado
de São Paulo apresentou recentemente exposição Véxoa, dedicada à
produção indígena contemporânea, com 23 artistas de diferentes regiões
do país.
A diversidade e a inclusão também avançam no circuito comercial
e de colecionismo. A Mendes Wood DM, por exemplo, é uma galeria que tem
se destacado pela pluralidade de seus artistas, projetando nomes como
Sonia Gomes, Paulo Nazareth, Antonio Obá e Rosana Paulino. O artista
Maxwell Alexandre, representado pela galeria carioca A Gentil Carioca,
que em sua obra trata da questão da negritude e do entorno social nas
favelas cariocas, apresenta atualmente uma exposição individual na
filial londrina da prestigiosa galeria David Zwirner. Também há em
andamento um importante resgate de artistas autoditadas, que até pouco
permaneciam à margem do circuito institucional, como Amadeu Lorenzato,
Agnaldo, Conceição dos Bugres e Miriam (atualmente personagem de mostra
na Almeida e Dale Galeria). A Galeria Estação vem, em especial,
exercendo importante papel na divulgação de artistas de tradições mais
populares. Além disso, despontaram recentemente novas galerias, focadas
no apoio a artistas com perfis diversos. A 01.01 Art Platform foca em
artistas afrodiaspóricos. O Nacional Trovoa ambiciona enquanto coletivo
de mulheres racializadas “evidenciar nossas produções não hegemônicas
que derivam de intersecções raciais passando por indígenas, negras e
asiáticas.” Recentemente a galeria paulista Kogan Amaro lançou um
manifesto público no qual se compromete a reduzir, ao longo dos próximos
3 anos, as diferenças étnicas no corpo de artistas da galeria.
A SP-Arte, festival internacional de arte criado em 2005, por
sua vez, tem sido pioneira no apoio à maior diversidade no nosso
circuito das artes e foi uma das primeiras no mundo a romper a barreira
histórica das tradicionais feiras de arte que só admitem como
expositores galerias de arte moderna e contemporânea. A partir de 2010, a
Feira passou a ter em seu line-up galerias dedicadas à arte popular,
como a Galeria Estacão, à street art como a Choque Cultural e,
recentemente em 2020, coletivos independentes e galerias dedicadas a
artistas negros da diáspora africana, como a 01.01. Art Platform, o
Nacional Trovoa, a HOA e o coletivo de fotógrafas MFON, de Nova York.
Por fim, colecionadores têm respondido de forma muito positiva,
abraçando com entusiasmo este movimento de ampliação do olhar. As
coleções de forma geral estão se tornando mais diversas. Além disso,
começam a surgir importantes coleções dedicadas exclusivamente a
artistas mulheres, a artistas negros e artistas indígenas, assim como
coleções focadas em abordar temas específicos como questões de gênero ou
com foco político.
Em um país diverso como o Brasil, onde mais metade da população
não é branca, com fortes ligações com diversas nações do continente
africano, grande legado de fluxos migratórios, enorme variedade de povos
indígenas e um amplo leque de culturas regionais, valores como
diversidade e inclusão são fundamentais. Assim, esta abertura do olhar
no mundo das artes é não só bem-vinda como essencial para o
desenvolvimento e o reconhecimento de nossa produção artística e da
nossa cultura. A diversidade é bem vinda e necessária!
Fonte:https://exame.com/blog/fernanda-feitosa/um-olhar-amplo-e-diverso-no-mundo-das-artes/?fbclid=IwAR3qB_YaEOXfvWDzuG7NikxQZZbVhuwNK6OC5ECoQejH4uhwJLG9FDkS35I
Proxima Postagem: Como museus e shows ajudam a prolongar sua vida dia 06/01/2021