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terça-feira, 1 de julho de 2014

O MUSEU EO ARTISTA parte 2


 Continuando o texto da semana passada...

Romper com os conceitos tradicionais da arte era uma preocupação do artista que se posicionava como um guerrilheiro no circuito de arte:


“O que me interessa em arte é criar linguagens ou propor novos sistemas de codificação. A linguagem nunca foi fixa, está sempre em mudança, quando a tecnologia avança surgem novas linguagens, novas formas de arte, novas atitudes, novos comportamentos” (Almandrade – 1975)


“No mundo dos signos o artista é um operário ou guerrilheiro da linguagem armado com a teoria da informação e a semiótica, a todo o momento ele está preparado para lutar contra as linguagens acadêmicas propondo novas codificações e envolvendo o público no processo criativo” (Almandrade – 1976)


Instituição paradigmática para a arte contemporânea, conhecer seu espaço físico e a ideologia que a envolve era uma necessidade do artista experimental. Realizei algumas exposições que tinham entre os seus objetivos discutir o museu: O Sacrifício do Sentido, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 1980, a primeira exposição individual de arte contemporânea na Bahia e a instalação “Público/Privado”, montada no Museu de Arte Moderna da Bahia e no Museu de Arte moderna do Rio de Janeiro, em 1982.


As dificuldades eram muitas, fui recusado nos salões locais por fazer uma opção pelo “contemporâneo”. A exposição do “O Sacrifício do Sentido” não foi bem vista pela crítica provinciana e pelo público baiano. Paguei caro. Hoje a coisa está inversa, a arte contemporânea está em todos os lugares, se exige muito pouco do artista. O que mais interessa é o turismo e o lazer, estimular o consumo disponibilizando produtos com prazos de validade, para acelerar o vetor da economia.


Nesse contexto, as iniciativas dos museus dependem do tráfego de influência e da inteligência de quem está à frente da instituição. Entre a burocracia excludente dos editais, as leis de incentivo e a superioridade do mercado, os museus encontram-se sem os recursos necessários para realizar seus projetos e manter uma programação livre de pressões externas que comprometem seus compromissos culturais. Depois da censura, da repressão, do “milagre econômico”, a indústria cultural e de entretenimento ocupa o centro da decisão.


Há urgência por parte do mercado de uma demanda de novidades que resultam em mostrar o que ainda não nasceu. Para o artista consciente do seu papel, o museu é uma oportunidade de mostrar de maneira crítica uma produção de arte e contribuir para a formação e a informação do circuito artístico. Por isso mesmo ele deve opinar na sua política cultural, não só expor, pensar, discutir e participar da produção curatorial.


Pensar sobre a natureza do museu de arte e o trabalho do artista é um desafio da prática museológica, principalmente com a desmaterialização do objeto de arte que implica em transformações e atualizações na forma de mostrar, documentar e armazenar. Há uma dependência recíproca entre museu e artista. O lugar onde está o suposto objeto de arte imprime uma marca ou explicita leituras. A instituição museológica com sua dimensão reflexiva tem o papel legitimador e mediador.

Almandrade é artista plástico, poeta e arquiteto.

Fonte: Cultura e Mercado 

Fonte de onde foi retirada Defender
Proxima postagem: Sobre a polemica do Anador e outros preconceitos (sobre museus e arte)